A multa
Ninguém gosta de ser multado. Não sei se os polícias gostam de multar. A multa é uma sanção, uma reprovação por certo comportamento. É a expressão de uma censura.
Pode não haver multa. A sanção pode ser outra. Uma repreensão verbal, uma daquelas conversas dos polícias, de boca semi-aberta, entre-dentes, " o senhor isto, o senhor devia aquilo, o senhor não podia aqueloutro...". Como eles e elas tão bem sabem fazer. Eu gosto de os ouvir. O senhor agente tem toda a razão! Eu não o devia ter feito, de maneira nenhuma...
É a expressão adequada da cidadania no seu pleno vigor. O Estado, todo poderoso e paternal, ensina e instrui. O cidadão, zeloso e cumpridor, regista e corrige, de forma inelutável, os comportamentos futuros. Uma bela dança a dois, com música do Estado de Direito, letra de dois seres humanos em situações opostas, mas sem contradições.
E lá ouvimos a reprimenda, na angústia do guarda-redes na hora do penalty: e a multa, sai ou não sai?
Na maioria das vezes, porém, ela sai mesmo. E com direito a sanção acessória, a reprimenda individualizada. Concreta e particular: "toma lá cidadão e não te queixes".
Agora, levar com a multa e ter ainda de ouvir a reprimenda, é que não! É uma dupla sanção, é ser condenado duas vezes, é levar na sopa. É absurdo intelectualmente e injusto humanamente.
(Lisboa)
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