terça-feira, janeiro 23, 2007

Embrião

Um dos mais difíceis problemas de opção no aborto, prende-se com a qualificação do feto como vida, como ser humano ou como forma de vida.
Há quem entenda que o homem é apenas um embrião desenvolvido. Sinceramente, incomoda-me esta visão redutora, que nos encolhe à dimensão apenas molecular, pois não me parece que sejamos apenas o nosso código genético e que a pessoa humana se resuma no resultado da química dos cromossomas que o pai e a mãe de cada um de nós contribuíram para existirmos como seres vivos.
A pessoa humana é muito mais do que isso. Por isso não alinho facilmente na lógica de que permitir interromper a vida às 10 semanas seja matar a pessoa, nem que isso seja equiparável a admitir a pena de morte (apesar de me parecer que alguns de que defendem essas visões mais radicais, não teriam problemas em apoiar a pena de morte).
Não aceito a lógica de que as coisas são apenas assim e que é indiferente o aborto à 1ª semana, à 10ª ou à 30ª. A seguir esse racíocinio, teríamos de impedir o aborto em qualquer circunstância - fosse o feto resultado de violação da mãe, houvesse ou não má-formação ou estivesse ou não em causa a saúde e a vida da mãe. Nestes casos, já hoje previstos na lei, a esmagadora maioria dos portugueses compreende que a interrupção da gravidez deve ter protecção legal.

1 Comments:

At 2:14 da tarde, Blogger S. said...

A semente de discórdia da interminável polémica acerca do aborto ou, para ser politicamente correcta, da interrupção voluntária da gravidez reside no facto de não conseguirmos chegar a um acordo acerca do momento em que a vida começa. Para alguns, será desde o momento da concepção. Às 5 semanas há um coração a bater, ouvi um especialista dizer. Para outros, um embrião não será ainda uma forma de vida ou, pelo menos, um ser humano no sentido mais amplo do termo. Porque o ser humano é tanto fruto dos genes como do meio, concordo. Por isso, procuramos estabelecer um limite consensual, até ao qual as mulheres poderão decidir acerca do projecto de vida que trazem dentro de si sem que a sociedade as puna. Em liberdade e em segurança.
Independentemente daquilo que penso no que concerne ao início da vida, parece-me que não cabe ao Estado fazer o papel de Deus. Nem para a morte, nem para a vida. Dizem-me que os direitos à disposição do próprio corpo são um argumento pobre para a defesa da IVG. Não concordo. É, antes de mais, à mulher e ao homem que cabe a decisão. São eles que viverão o resto da vida com a sua consciência e com o estigma social (sim, porque falamos de uma despenalização e não de uma liberalização, uma vez que a IVG continuará a ser socialmente censurável). É uma vida, talvez seja. E até por isso. Deve haver uma responsabilização por cada vida que se traz ao mundo. Se não há condições, se não há vontade... Não há nenhum altruismo em fazer essa criança nascer.
Porque cada criança deve ser amada desde o primeiro segundo de vida. E essa é a minha única luta.

 

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