A vida para lá de todos
A minha semana na Florida, EUA, revelou-se do maior interesse. Foi demasiado curta e demasiado intensa para conseguir vir aqui pesar o meu ser. Mas fartei-me de florir.
Uma das imagens que me fica, resulta da vista da minha cadeira da frente, bem como de todas as outras cadeiras, disciplinadamente arrumadas num anfiteatro de uma universidade daquele Estado americano.
Enquanto ouvia uma prelecção sobre um projecto em regime de parceria público-privada, que permitia sustentar um instituto de investigação de bio-ciência e tecnologia, para investigação de novos produtos e processos para diagnóstico e tratamento de doenças, sobretudo do foro oncológico, reparei que, nas costas das cadeiras, de todas elas, constavam umas pequenas placas rectangulares, douradas, com nomes esculpidos de pessoas, vivas e mortas, cheias de saúde ou in memoriam, mulheres e homens, solteiros ou aos casais, pais e filhos, irmãos e avós, mães ou primas, a quem se consagrava cada uma das ditas cadeiras, pelos donativos em vida consagrados ao ser e à existência.
Recordei-me então de muitos dos nossos cemitérios, em que herdeiros gastam verdadeiras fortunas a glorificar a vida, a honra e a memória de alguns dos seus, em enormes e avantajados túmulos e lápides, alguns a preços de 5 assoalhadas.
Pergunto-me, se não ganhávamos todos muito mais com umas campas mais simples, em que se glorificasse a honra e a memória dos mortos através do incentivo aos vivos, aos necessitados e à melhoria e promoção das condições da vida de todos os outros, que por aqui ficam.
Os vivos serão mais vivos e agradecem, a bem dos dias em que o forem, para que menos dias sobrem para o não serem.
(Oliveira de Azeméis)
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